26.3.11

Quando a memória dói



Faz tempo que não voltava ao beco. Recordar é viver. Quem vai me dizer que não?

Qual é o mistério dos átomos do pensamento e da lembrança, se enquanto eu lembro eu posso ver daqui de perto o Glíter nos olhos de pops, a doçura nos pés de Misha e o fogo dos cabelos de Polly . Se essa lembrança me ocorre sem mesmo que eu me force: o beco que outrora era um espaço real, agora é um espaço mítico, cheio de reminiscências com cheiro e cor. Amarelo mostarda, palha, e principalmente azul. Cheiro de brisa fresca e cor de entardecer. Amor no peito, gratuito e puro. água de chuva que goteja no meu antebraço, sereno caindo suave à noitinha, orvalho molhando as madrugadas, madeiras de janelas, meia luz da noite, cigarros de palha, pão de alho que era somente aquele, cervejas que eram somente aquelas e assuntos que eram aqueles. Quais eram? Eram todos! posso sorrir ao lembrar sem mesmo saber do real conteúdo. Posso sorrir apenas por sentir a carícia do tempo...

Sim. O beco é eterno. Tão eterno quanto o sertão de Guimarães que vive ali, passou e ainda é o mesmo: dentro da gente. de uma eternidade estranha, metonímica como a dor que desatinava sem doer de camões. É deste tipo de dor rara e suave a que estou me referindo. Dor de sentir aquilo que aperta no peito e que faz o relógio parar- dor da solidão de não ter por perto, de não poder voltar. Mas não essa dor tão nefasta, meus caros, afinal, a lembrança vive ali, irretocável e intacta e enquanto eu fecho os olhos, eu também posso ver...


E além disso tudo, foi um tempo de transição para mim. Mas aí são mangas para outros vestidos. rs

Cada uma seguiu o seu caminho. Quis evitar de pensar nisso enmquanto escrevia, mas preciso repetir isso e entender aquilo, que não é porque o rio fez a curva por detrás da colina que ele não vai ser mar. né?

E por falar em memória, as fotos do nosso último encontro se apagaram misteriosamente. O tempo é ou não é irônico?

Mas eu vim aqui para falar de amor... Amor por um tempo, por um beco e por 3 garotas. Aqui me aquieto e deixo que camões que entende de dor que não dói, fale por mim:


Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.
Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
Pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,
Que, como um acidente em seu sujeito,
Assim com a alma minha se conforma,

Está no pensamento cono ideia;
O vivo e puro amor de que sou feito,
como a matéria simples busca a forma.




Dedicado a 4 garotas (incluindo a mim mesma) que ainda existem num beco eterno.



(Nica )

2 comentários:

Marias Salinas disse...

Um dia, amanhã, depois de amanhã ou daqui um ano; a alegria sempre se vê em nostalgia, e faz doer.

Misha

Anônimo disse...

Só digo uma coisa: estou chorando.
Sempre achei a saudade um bicho estranho.